quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Baseado na lei da hipocrisia nacional

O ano que acabou de começar na verdade parece uma prorrogação do ano de 2016. Notíciais ruins inavdem nossas casas a todo instante seja pelos jornais impressos, seja por portais de internet, seja por mensagens eletrônicas. A lava jato não teve recesso. As chuvas de verão como de costume já fizeram suas vítimas fatais país afora e também em Guarulhos. E as autoridades recém empossadas, beneficiadas pela trégua dos 100 dias, fazem cara de paisagem, posam para fotos em ações populistas e de vez em quando culpam a administração anterior pelo legado que assumiram.

Ué? Quando eram candidatos não sabiam o que iriam herdar? Não cansaram de dizer que a cidade estava quebrada, que não tinha dinheiro para nada, que era preciso um choque de gestão? Ganharam a eleição sabendo o que iriam ter pela frente. Não encontraram surpresas.

O fato mais chocante deste início de ano é sem dúvida a carnificina nos presídios brasileiros. Mais de uma centena de mortos, alguns com requinte de crueldade, numa guerra pelo controle das rotas do tráfico de drogas entre as duas principais facções criminosas do país, uma do Rio de Janeiro e outra de São Paulo.

O estarrecedor no entanto, não são as mortes propriamente ditas, que por si só, já bastariam para ruborizar qualquer Torquemada, mas a postura da sociedade civil. Linchadores de plantão, que se dividem entrem os direitos humanos e os humanos direitos, justificando cada um dos lados seus argumentos.

Fato é que a guerra entre as facções é uma guerra comercial como outra qualquer. Como os países brigam pelo melhor mercado para exportar seus produtos. A economia dos Estados Unidos sofreu um duro golpe com a importação de carros japoneses, levando fábricas importantes a se modernizarem, reduzirem suas plantas e demitirem milhares de funcionários, Detroit é hoje quase uma cidade fantasma.

O mesmo ocorreu no Brasil com a cidade de Americana (só para citar um exemplo) quando os coreanos e chineses invadiram o país com seus tecidos coloridos e preços absurdamente baixos. A cidade que ostentava o título de Princesa Tecelã, tinha quase duas mil tecelagens, amargou um desemprego recorde e viu falir ou fecharem as portas 70% delas que não tinham como competir.

Nunca ouvimos falar em uma guerra entre os produtores de atemóia, pitaya ou seriguela. Sabem por quê? Porque o mercado é pequeno, o consumo é baixo e poucos são os produtores, logo, tem mercado para todo mundo.
Existe outro componente nesta questão do mercado: todos os exemplos citados acima, são exemplos de mercados legais, com órgãos reguladores, fiscalização, cobrança de impostos, emissão de nota fiscal, etc, etc, etc, etc...

Já no mundo das drogas a guerra é pessada. O mercado movimenta cerca de 2 trilhões de dolares por ano no mundo. Só no brasil estima-se que chegue a 100 bilhões de reais. Um mercado muito atrativo. E quem está no jogo, quer ganhar. Não importa como. E o mercado apesar de gigantesco é ilegal, clandestino. O que fomenta a contravenção e o crime. Há muita gente grande se beneficiando dessa ilegalidade. Basta ver quando se prende um chefe do tráfico qualqur por aí. Com raríssimas excessões, o cara apresentado como o traficante que movimenta milhões de dolares é apresentado às cameras de Tv descalço, sem camisa, poucos dentes na boca, incapaz de articular uma frase com começo meio e fim. Sinceramente, é esse cara que gerencia fortunas? Você que nos lê daria duas galinhas para um cara desses tomar conta?

A situação só vai melhorar quando ficar claro para todos os juízes do país quem é traficante e quem é usuário. Hoje há pessoas nos presídios porque foram flagradas com dois baseados e estão ao lado co cara que transportou 50 toneladas, mas o comprador e o vendedor estão confortavelmente em suas casas nos Jardins, no Lago Sul, no Leblon ou qualquer outro endereço imponente.

E o garoto classe média que antes de sair para a balada vê o jornal na TV com sua avó e comenta com ela que são um bando de animais, é o mesmo cara que dali algumas horas estará na balada do momento esticando uma carreira de cocaína em uma mesa com tampo de mármore curtindo sua noitada. Ele não pensa que é seu vicio "inocente" que alimenta essa cadeia de crimes hediondos. 

A garota que faz faculdade bancada pelos pais e mora em bairro chique, ao acender seu baseado após a aula, para "dar uma relaxada" não se preocupada que sua atitude fomenta a disputa no morro ou na favela.

Essa hipocrisia da nossa sociedade em que o problema sempre é causado pelo outro e nós não temos nada a ver com isso é o que alimenta essa barbárie.

Enquanto esse show de horrores estiver restrito às muralhas das prisões, BASEADOS NA LEI DA NOSSA HIPOCRISIA continuaremos mais ou menos tranquilos.


O problema é que a qualquer momento as muralhas carcomidas pela corrupção, pelo descaso, pelo abandono e pela violência das prisões ruírem, não haverá para onde correr.

Quem sobreviver, precisará de muito baseado para esquecer o que verá.

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