quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

D. Paulo de Evaristo Arns, um Homem sem Reposição

Existem homens comuns, somos a maioria entre os viventes.  
Existem homens bons, que se podem contar aos milhares em diversas áreas. 
Existem homens extraordinários , homens de gênio que com sua inteligência transformam o mundo com inovações,  São centenas.
E existem homens fora de série,  extraordinários, que com determinação coragem e exemplos transformam não somente o mundo,mas os outros homens ,e que no fim acabam transformando o mundo.

Hoje os veículos de comunicação divulgam a notícia da perda de um homem desses D. PAULO DE EVARISTO ARNS, assim mesmo, em caixa alta.
Eu jovem estudante de jornalismo o procurara, lá nos idos dos anos oitenta na casa em que ele residia na Pio XI, Alto da Lapa e guardo na memória , para entrevistá-lo sobre a primeira eleição direta para presidente depois da abertura política. Ele afável no tratamento quis primeiro saber de mim, quem eu era, de onde vinha e principalmente o por que de eu estudar jornalismo.
Disse a ele que tentava seguir os passos de meu pai que tinha sido jornalista e morrera alguns meses antes em um acidente, ainda vivendo seu exílio. Guardo na memória cada trecho daqueles momentos e transcrevo uma parte aqui:



-Ainda no exilio? Mas a anistia se deu há 10 anos, porque ele não voltou?
-Medo, D. Paulo, medo. Papai desenvolveu uma coisa que os psicólogos chamam de mania persecutória. Ele pensa que está sendo vigiado, que a qualquer momento será preso e torturado novamente...
- Sei o que é isso. Infelizmente muitos que tive contato ainda hoje estão assim, com a alma quebrada.
-E o senhor não tinha medo? De ajudar essas pessoas?
-Sim, tinha medo, muito medo. 
-E mesmo assim o fazia?
- Meu filho, o meu medo era gigante, mas a necessidade de dar voz aquelas pessoas que estavam "gritando silêncios" pois ninguém as ouvia, era muito maior. Não foi coragem, foi a necessidade.
Ficamos em silêncio alguns instantes, conversamos sobre meu pai e do contato que eles tiveram antes de meu pai partir. Minha mãe o procurara para tirá-lo do DOI-CODI. Ele lembrou-se de cada detalhe, da operação que fora montada para tal êxito.


Conversamos por horas até que um padre veio interromper nossa idílica conversa.
Sobre a entrevista? nenhuma pergunta. Na saída disse me para deixar escrito que ele responderia e me enviaria via correio.

Hoje uso este espaço para homenagear o Passarinho (era assim que os perseguidos o chamavam) que ousou voar rumo a liberdade levando o Brasil nas costas.
Seu livro Brasil nunca mais deveria ser leitura obrigatória, principalmente pelos burgessos que hojem pedem intervenção militar em plena democracia.
Hoje o mundo perdeu um homem sem reposição. 
E o mundo ficará muito mais desumano sem ele.
Certos homens não deveriam morrer nunca. D. PAULO EVARISTO ARNS é um desses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

REPUBLICA DE GUARULHOS

REPÚBLICA DE GUARULHOS