Jeanne Marie, mais conhecida como Madame Roland foi a Viscondessa
Roland de la Platière e figura central na Revolução Francesa, foi em sua casa
que duas vezes por semana o Partido Girondino se reunia para discutir os
destinos da França recém republicana.
Condenada à morte em 1793, a caminho da guilhotina,
Madame Roland disse:
"Oh Liberdade, quantos crimes são praticados em seu
nome!"
Mais de dois séculos depois, do outro lado do Atlântico
um juiz e um procurador da república armam um conluio em nome do combate a
corrupção para prender um líder político, bem colocado nas pesquisas de
intenção de votos que poderia ser reconduzido ao planalto e prolongar a estadia de
seu partido no poder.
Interferiram claramente no jogo político, ferindo o Código
de Ética da Magistratura, nos princípios morais que regem os cidadãos de bem,
como se a frase proferida por Maquiavel há 500 anos "os fins justificam os
meios" fosse a medida da justiça.
Não é. Ou pelo menos não deveria ser.
Todos os brasileiros que se preocupam com o estado democrático
de direito, com as liberdades individuais deveriam estar indignados com essa
situação. Já vimos esse filme antes e o final não foi bom.
O jornalista Herzog estava na redação da TV Cultura e foi
chamado para dar alguns esclarecimentos às autoridades, dias depois, "suicidou-se". Vlado era casado, tinha filhos, bom emprego, não tinha inimigos,não tinha histórico e
não tinha motivos para tal ato. Antes dele o deputado Rubens Paiva também foi
esclarecer algumas coisas e desapareceu. Para sempre. Em Perus (zona Oeste de
São Paulo) foi encontrado um cemitério clandestino com centenas de corpos de
pessoas que foram prestar esclarecimentos sobre suas atividades e nunca mais
apareceram.
O Estado brasileiro nunca esclareceu essas ações.
As explicações sempre foram de que estavam limpando o
Brasil do Comunismo.
Quantos crimes foram cometidos em nome dessa limpeza?
Em nome do combate a corrupção crimes graves foram
cometidos. Crimes que atentam contra o que temos de mais precioso: nossa
liberdade.
Pessoas de bem não podem se comportar como torcedores em
uma arquibancada torcendo por esse ou aquele time.
Condenar os atos da dupla Moro/ Dallagnol não significa
apoiar Lula e os corruptos, e por extensão estar contra a Lava á Jato.
O combate à corrupção deve ser prioridade de todos nós,
mas isso deve ser feito respeitando os princípios legais.
Se apoiamos esse tipo de ação contra um ex presidente da
república, como poderemos pedir que a lei seja justa, o juiz imparcial quando o
acusado for o trabalhador pobre da periferia, nosso vizinho, nosso filho ou nós
mesmos?
Em seu poema Intertexto (que reproduzo abaixo) dos anos 1930,
quando Hitler começava a encantar a Alemanha, Bertold Brecht expressa com
profunda clareza, sabedoria e angústia o que nos espera se enveredarmos por
esse caminho.
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Vale a reflexão.
Alex Honse
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